A Verdadeira Dama de Ferro

A brasileira de família simples que está conquistando o mundo através do fisiculturismo

Elaine Dotto - Miami, FL

16/12/2019

| Atualizado em

14/12/2019

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A Verdadeira Dama de Ferro

 

Miami, FL - O nome dela é Isabelle Pereira nascida em Nova Iguaçu no Rio de Janeiro. O América24h recebeu a bodybuilder numa tarde de quarta-feira; em uma das mais importantes avenidas comerciais de Miami na Flórida.

Isa assim como é carinhosamente chamada coleciona incontáveis carimbos no passaporte representando o Brasil em diversas competições. Países como Chile, Paraguai, Equador, Caribe e Estados Unidos tiveram a oportunidade de conhecer de perto o talento da iguaçuana que hoje faz sucesso por onde passa. Na bagagem, além da experiência, Isa acumulou inúmeros troféus, medalhas e prêmios. image5

Nascida numa região menos privilegiada do estado do Rio de Janeiro, Isabelle nunca imaginou que iria trilhar caminhos que a levariam tão longe. Com apenas 23 anos, a brasileira Isa Pereira perdeu a conta de quantos campeonatos participou, mas disse que o passo mais importante até agora foi ter ganho a etapa Brasil do “Arnold Classic”, na categoria Wellness; passando da fase amadora para a fase profissional.

 

 

“Os Estados Unidos tratam o profissional do esporte como profissional. Busco qualidade de vida e reconhecimento na minha área que eu não encontrei no Brasil”.

Isa Pereira, Bodybuilder

 



Como surgiu o fisiculturismo na sua vida?
Isa: Eu fazia ginástica por hobbie. Conheci meu marido que também sempre foi ligado a esportes - fazia lutas, como Muai Thai e Jiu-Jstu - e ele me chamava para ir à academia com ele. Um dia, fomos assistir um campeonato de fisiculturismo e eu me encantei pelo esporte e resolvi me desafiar. Aí, ele topou a ideia e me incentivou.

E quando foi seu primeiro campeonato?
Isa: Foi no ano de 2015, na Ilha do Governador no RJ onde fui vice-campeã. Eu tinha apenas 18 anos e recebi muitos elogios, o que me motivou ainda mais.

Nesse tempo, como era sua vida?
Isa: Eu tinha começado a faculdade de Ciências Contábeis e no segundo mês, tinha conseguido um estágio. Mas, minha vida mudou depois que entrei para o esporte.
Conciliei a faculdade, estágio e o esporte durante três anos. Acordava às cinco da manhã para dar tempo de fazer meu exercício cardio - ainda em jejum - e corria para o estágio que começava às oito. Na época, morava em Nova Iguaçu (região Metropolitana do Rio) e pegava trem e metrô. Vida muito dura nesta época. Depois, ia para faculdade e academia para mais treinos. Finalmente voltava para casa para preparar minha marmita para o dia seguinte; e claro tentar descansar.

Quando você decidiu se profissionalizar?
Isa: Quando ganhei o maior campeonato amador do mundo, o “Arnold Classic”, etapa Brasil na categoria Wellness; e logo depois ganhei meu cartão de atleta profissional. Aí, percebi que não conseguiria mais ser contadora e atleta ao mesmo tempo, pois para o profissional, o nível das atletas é bem maior e teria que me dedicar 100%. Então, abri mão da faculdade e do estágio; comecei a fazer alguns trabalhos como modelo fitness.

Mas não é fácil decidir ser bodybuilder assim. Você deve ter um biótipo pré-disposto para isso, não?
Isa: Eu sempre gostei de treinamento físico, tinha uma massa muscular, mas não fazia dieta...Para você ter ideia meu café da manhã era achocolatado com biscoito maisena. Mas, quando eu decidi ser atleta fiz uma dieta rigorosa durante seis meses e treinos duas vezes ao dia.

As pessoas não fazem a menor ideia do que vocês atletas precisam fazer para ter este desempenho, isso?
Isa: Exatamente! Gosto de dizer que esse é um esporte diferente de futebol que treina em determinados horários para se condicionar para um jogo. O meu esporte é 24 horas por dia. Você “treina” desde a hora que acorda até a hora em que vai dormir. Se durmo fora do horário habitual, isso já vai influenciar no meu rendimento no dia seguinte na minha recuperação muscular. Um stress qualquer pode elevar o nível de cortisol – hormônio que causa stress no músculo – e comprometer o trabalho todo.

E todos os dias é a mesma rotina?
Isa: Existem duas fases: off e pré-competição. Na fase off, o atleta visa melhorar as deficiências, descansar o corpo e fazer exames médicos. Nessa fase, eu ingiro mais carboidratos para suprir algumas necessidades. Já na “pré-contest” (sic) período que eu tenho que perder gordura e ficar com a musculatura mais aparente. A rotina é bem regrada. Além dos exercícios cardio e treinos de musculação, faço sessões de alongamento, RPF (reeducação postural funcional) e ensaio poses.

Você tem coreógrafa para fazer as poses que valorizam a sua musculatura?
Isa: Eu sou a minha própria instrutora nesse quesito, inclusive dou aulas no Brasil e gostaria de ensinar aqui também nos EUA. As poses exigem muito ensaio. Na minha categoria, tudo conta: cabelo, pele, biquíni, a tinta usada no corpo, o sorriso e, claro, a musculatura.

 

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Como é ter o marido como treinador?
Isa: Têm prós e contras. Certo ponto é bom porque te incentiva o tempo todo, mesmo quando a gente está desanimada. Por outro lado, ele me monitora e assim eu não posso sair da dieta de jeito algum, com ele na minha cola não tem jeitinho.

O marido da fisiculturista complementa durante a entrevista...
Guilherme Nunes: Eu entendo o dia-a-dia. Para você ter excelência no esporte, a rotina é massacrante. Você precisa de um parceiro que fale a mesma língua que você. Cada passo é programado, cada o grama ingerido é calculado e faz diferença no resultado final. Não importa se é Natal ou Ano Novo, tem que ir para a academia e fazer direitinho a dieta.

É uma maneira diferente de encarar as coisas na vida. Cumplicidade é importante. Isso Isa?
Isa: Isso! Ele me apoia e me incentiva. Ele vibra com cada vitória, como se fosse dele.

Então agora vem o período de festas e você vai ficar na dieta. (entrevista realizada em Dez/2019)
Isa: Pois é... Tenho cinco quilos para perder.

Mas, é um sacrifício para você?
Isa: Assim como qualquer pessoa, eu também adoro comer umas besteiras. Gosto de pizza, hambúrguer, mas amo mais estar no palco. Então, eu como para suprir as minhas necessidades e meus objetivos. O fisiculturismo é mais o controle da mente. Eu costumo dizer que ativo o modo robô.

Você já sofreu assédio ou bullying por ser fisiculturista?
Isa: Acho que no Brasil é mais difícil, as pessoas têm mais preconceito com tudo que é diferente. Nas redes sociais, eu já fui atacada, mas sinceramente, eu não ligo. Eu amo esse esporte! Cada um tem sua opinião, seu gosto... só acho errado ofender, atacar ou tentar denegrir...
No começo da carreira, minha família ficou preocupada comigo por achar que perderia a feminilidade, mas depois viram que isso não tem nada a ver. Minha sogra e minha mãe vão nas competições com cartazes, cornetas... Elas têm o maior orgulho! Outra coisa que as pessoas brincam muito é sobre o cheiro das minhas marmitas! Mas isso é questão de costume.

E como é nos Estados Unidos? A gente percebe que muitos desportistas brasileiros saem do Brasil porque o mercado americano acaba sendo mais atrativo e valoriza essas profissões ligadas ao esporte.
Isa: Esse é o principal motivo que me trouxe para cá. No Brasil, todo mundo acha legal você competir, mas não tem apoio e incentivo. Eu tinha muitas parcerias com empresas, mas basicamente permutas. Não existia retorno financeiro, ninguém paga a passagem para você ir para uma competição. Aqui, você é respeitada, as empresas te patrocinam e a suplementação é mais acessível. A percepção dos empresários é diferente. Eles sabem que além dos gastos no dia-a-dia existem também os extras de viagem para participar dos concursos.
Atualmente, eu tenho uma agência que cuida da minha imagem, a Not Your Typical Company e a Hayman-Woodward. Recentemente, aceitei o convite para ser articulista do jornal “Universo Delas” que circula em Miami e Orlando.

E seus planos para futuro?
Isa: Já existem competições agendadas para 2020. Próximo campeonato será em Janeiro em Los Angeles, Califórnia. Existe um outro campeonato confirmado para aqui em Miami. Além disso, tenho o projeto de trazer minha marca fitness para os Estados Unidos, a Top Bella Fitness. Bastante ansiosa para o próximo ano; tenho certeza que será um período de crescimento e sucesso.